A NOVA ECLESIOLOGIA A PARTIR DO CONCÍLIO VATICANO II – parte 3

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3. A DIVERSIDADE DE MEMBROS E CARISMAS

Já desde a comunidade primitiva, encontrou-se no seio da Igreja a realidade da diversidade como um desafio de compreensão e de pastoreio. Lembremos, com a ajuda de Pié-Ninot, da incorporação dos gentios à comunidade cristã tratada em debate por Pedro, Tiago e Paulo. No século I, quando a Igreja se originava, foram produzidas atitudes diferentes na comunidade cristã, sem dúvida, resultantes das diferentes teologias testemunhadas no Novo Testamento. Um insistia no cumprimento pleno da lei Mosaica, como a circuncisão; outro mantinha a importância de algumas práticas do judaísmo, mas não a circuncisão; um terceiro, ao contrário destes, negava todas as práticas judaicas; e um quarto considerava correto opor-se ao templo de Jerusalém, considerando indefectíveis as práticas e o culto judaicos. Deve-se considerar a importância dos apóstolos para a solução destas questões de conflito nas comunidades no início da Igreja, e assim, vemos a questão da diversidade de membros como fortemente apostólica1, portanto, autêntica e relevante.

Sobre a diversidade de carismas, por sua vez, a Lumen Gentium ensina que o espírito de fé que move o fiel a agir como povo de Deus é suscitado pelo Espírito Santo, através da celebração dos sacramentos, das virtudes e dos ministérios. Contudo, ensina o concílio, o mesmo Espírito Santo não se limita a estas duas realidades sagradas para animar a totalidade do povo de Deus. Distribui ainda, aos fiéis de todas as vocações, segundo sua própria vontade, os seus carismas.

Além disso, o mesmo Espírito Santo não se limita a santificar e a dirigir o povo de Deus por meio dos sacramentos e dos ministérios, e a orná-lo

com as virtudes, mas também, nos fiéis de todas as classes, “distribui individualmente e a cada um, como lhe apraz”, os seus dons, e as graças

especiais, que os tornam aptos e disponíveis para assumir os diversos cargos e ofícios úteis à renovação e maior incremento da Igreja,

segundo aquelas palavras: “A cada qual… se concede a manifestação do Espírito para utilidade comum” (1Cor 12,7) (LG 12).

Tais carismas devem ser acolhidos quando bem discernidos pelas autoridades e acomodados perfeitamente às necessidades da Igreja. A postura sugerida pelos padres conciliares é de uma medida permeada por temperança: nem pedir temerariamente estes dons extraordinários, nem esperar deles com presunção os frutos das obras apostólicas.

Em muitos momentos, os padres conciliares trabalharam nos documentos a importância dos carismas na Igreja, o que é significativo ao passo que facilmente se tem a impressão de que eles são realidades especificamente reservadas aos primórdios da Igreja, como nos cenários descritos nas cartas apostólicas, por exemplo. Para Kasper, isto é equívoco, pois os carismas são sinal do Reino de Deus em irrupção e, por essa razão, fazem parte da Igreja de forma permanente. Recorrendo à etimologia, Kasper apresenta o radical cháris, do qual provém o termo carisma. O segundo vem a ser o efeito do primeiro, um dom da Graça divina e do Espírito de Deus, a exemplo de Pentecostes, dado pelo Espírito como Ele quer (1Cor 12,11), sendo contextuais, ou seja, correspondentes à situação histórica e às necessidades da Igreja no momento em que lhe são concedidos. Claro que tais carismas não devem ser entendidos como entusiastas independentemente da Igreja, nem mesmo quando pensada como instituição. O Espírito, quando concede os dons e carismas à Igreja, o faz pela mesma Igreja, por sua palavra, pelos seus sacramentos e seus ministérios. Temos então, carismas que não tornam a Igreja nem só espiritual, mas tampouco só institucional2.


Pe. Cléber Rodrigues

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REFERÊNCIAS:

1. Cf. PIÉ-NINOT, S. Eclesiología: La sacramentalidad de la comunidade Cristiana, p. 125: “Hacia mediados del siglo I se produjeron actitudes diferentes en la comunidad cristiana, sin duda reflejo de la existencia de diferentes teologías atestiguadas en el Nuevo Testamento, que generaron vários grupos dentro del cristianismo judeo-gentil. El primero de ellos insistía en la plena observancia de la ley mosaica, incluída la circuncisión (Hch 11,2;15,2;Gal 2,4; Flp 1,15-17); el segundo mantenía la importancia de la observancia de algunas prácticas del judaísmo, pero sin la circuncisión (Hch 15; Gal 2; Pedro y Santiago); el tercero, en cambio, negaba la necesidad de prácticas judías, especialmente en las comidas (Hch 15,20-39; Gal 2,11-14; 1Cor 8; Pablo); por último, el cuarto grupo no consideraba esenciales el culto y las fiestas judías, oponiéndose claramente al templo de Jerusalén, como refleja el discurso de Esteban (Hch 7,47-51) y con más radicalidad la Carta a los hebreos (8,13) y vários textos joánicos (Jn 8,44;15,25; Ap 3,9). Este panorama inicial de la comunidad primitiva (hasta el año 65) es fuertemente apostólico, ya que los Evangelios, el libro de los Hechos y Pablo destacan la importancia de los apóstoles como grupo y como indivíduos en este periodo formativo.”

2. Cf. KASPER, W. A Igreja Católica: Essência, Realidade, Missão, p. 192.

Texto extraído do Trabalho de Conclusão de Curso de Teologia: OS NOVOS MOVIMENTOS ECLESIAIS COMO RESPOSTA AOS DESAFIOS ATUAIS – PE. CLÉBER JOSÉ RODRIGUES – PUCRS/2019.

Autor(a): Pe. Cléber Rodrigues

Direitos da Imagem: ASCOM NH

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