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Formação para o Clero diocesano

Nossos corpos ressuscitarão? “Creio na ressurreição da carne e na vida eterna”, diz o credo. Não seria suficiente a ressurreição da alma? As palavras “alma” e “corpo” parecem contrapor-se uma ao outro. O corpo é destinado a decomposição e a tornar-se ao pó, enquanto a alma é destinada a salvação eterna. Os túmulos dos falecidos, ou as cinzas da cremação, guardam os restos materiais do corpo. Por que é importante afirmar a ressurreição do corpo?

O Pap a Francisco observou que “a ressureição da carne” é uma verdade não simples e longe de óbvia. No Antigo Testamento esperava-se a “ressurreição de Israel”, isto é, o renascimento deste povo derrotado e humilhado. No Novo Testamento, Jesus representa a realização desta esperança. Na antropologia semítica o homem não pode ser compreendido como a união de dois elementos distintos, alma e corpo, princípio espiritual e princípio material. A concepção de homem é unitária, embora complexa e articulada, constituída da mais dimensões. A Bíblia fala de “alma” (nefeš- psiché), de “carne” (basar- sárx), de “espirito” (ruâh-pneûma), de “corpo” (sôma). O homem nunca é identificado apenas com uma destas dimensões.

Quando Jesus ressuscitou, apareceu aos apóstolos com seu corpo vivo, comeu com eles, soprou sobre eles e com eles falou: Por que estais perturbados, e por que essas dúvidas em vossos corações? Vede minhas mãos e meus pés, sou eu mesmo; apalpai e vede: um espírito não tem carne nem ossos, como vedes que tenho“. E, dizendo isso, mostrou-lhes as mãos e os pés” (Lc 24,38-39). Como o corpo não era o mesmo de antes da ressurreição, não foi fácil reconhecer que era Jesus.

Jesus ressuscitou com seu corpo, mas não voltou à vida terrena, assim, também nós, ressuscitaremos com nossos corpos que serão transfigurados em corpos gloriosos. “É bom lembrar – frisou o Papa – que já nesta vida participamos da Ressurreição”. Se é verdade que Jesus nos ressuscitará no final dos tempos, também é verdade que, de certo modo, já ressuscitamos com ele. A vida eterna começa já agora, ao longo desta vida. De fato, já ressuscitamos através do Batismo, uma vez que por meio deste sacramento somos inseridos em sua morte e ressurreição. Estamos aguardamos o último dia, mas já temos dentro de nós a semente de ressurreição, como antecipação da ressurreição completa final.

Mas, também sabemos que o corpo não é redutível a vida física, pois participa de toda a história da salvação: da criação à encarnação do Verbo, à sua ressurreição, à Ascensão ao céu, de onde esperamos sua nova vinda. Se devêssemos pensar que o corpo morre com o fim da vida física, toda a história da salvação ficaria desiquilibrada. Como dizia Tertuliano: caro cardo salutis (a carne é a pedra angular da salvação). Anunciar o Evangelho, portanto, testemunhar a fé na ressurreição, não se desprende da missão de Jesus que disse na sinagoga de Nazaré, lendo o profeta Isaías: anunciar a boa notícia aos pobres, libertar os prisioneiros, dar a vista aos cegos, libertar os oprimidos… Significa salvar as pessoas atingidas pelo mal, salvá-los das ondas e abismos infernais, reconduzir das estradas perdidas…

Cada um de nós é o seu corpo, como é a sua alma. A relação de ambos é intima e indissolúvel. O Filho de Deus que salvou o mundo assumiu em tudo a natureza humana. Por isso, a vida de fé, amor e esperança antecipa a ressurreição, e a vida que levamos agora continuará crescendo depois da morte, até sua plenitude.

Autor(a): PE. RAMIRO MINCATO /PÁROCO DA SÃO JOSÉ OPERÁRIO – FIÃO/ SL

Direitos da Imagem: Pascom NH

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