Inauguração da Associação Pró Vida Mãe de Misericórdia

Meus irmãos e irmãs em Cristo, meditando sobre os textos de Lucas 24,1-24 e João 20,14-17, me dei conta da importância que tem o “testemunho” para a pessoa humana. Ver, ouvir, tocar… todas essas ações corroboram para que a verdade testemunhada seja crida e partilhada com outros tantos. Porém, precedente à tais fatos sensíveis, existe aquela experiência única que acontece na alma e no coração à qual chamamos fé.

Foram três anos caminhando com Jesus pelas poeirentas estradas de Israel; um sobe e desce anual nas muitas peregrinações que Mestre e discípulos fizeram juntos à cidade Santa de Jerusalém, para honrar o Senhor Nosso Deus. Nesses longos quilômetros que separavam Cafarnaum do Monte Sião, muitas conversas, ensinamentos, curas, prodígios, milagres, advertências, correções, afagos, demonstrações de amor e cuidado entre o Criador e suas criaturas. Como devem ter sentido saudades os discípulos e discípulas, quando a presença física de Jesus lhes foi tirada pela dolorosa morte na Cruz.

O Madeiro infamante destruiu as esperanças de um Israel livre e feliz. A escuridão do túmulo apagou as luzes que a fé havia lançado sobre as trevas daqueles pobres homens e mulheres. Tudo estava consumado e nessa consumação havia vencido o mundo e suas mentiras. Jesus morreu! Tristeza, dor e solidão tomaram conta daquela fiel, pequena e seleta turba que acompanhava o Rabi. A Palavra que foi lançada por Ele com tanto entusiasmo, que gerou conversão e desejo de um mundo mais justo e fraterno, estava fadada a desaparecer como outras tantas promessas de liberdade e paz que já haviam sido semeadas naquelas paragens.

Pelas redondezas do túmulo, estavam as mulheres que o haviam seguido em sua vida humana. Elas que tinham sido curadas pelo Deus-homem, estavam ali testemunhando sua sepultura. Seus corações incrédulos por tamanha injustiça, não desejavam crer nem mesmo apagar as mais felizes lembranças e experiências de amor que tiveram a oportunidade de vivenciar com Jesus. Elas observavam bem o local, o túmulo e todos os pormenores do sepultamento, inconformadas que nem mesmo o ritual judaico de preparação dos mortos foi seguido (Cf. Lc 23,55). Voltaram para casa assustadas, feridas, tristes, mas desejosas de verem mais uma vez o Mestre, ainda que somente seu corpo sem vida. Prepararam os aromas e perfumes e vigiaram todo o Shabat, esperando que chegasse logo o domingo, para que, pela última vez pudessem tocar as mãos de Jesus (Cf. Lc 23,56).

“Dois homens angelicais,

com vestes fulgurantes

lhes perguntam

porque estavam procurando

entre os mortos aquele que ressuscitou”.

O dia raiou! É domingo! O descanso sagrado passou e é hora de encontrar-se novamente com o Mestre. Todavia, não com aquele Jesus alegre, observador, sabedor de todas as coisas e conhecedor dos mais íntimos segredos de seus discípulos, mas, com um corpo frio e sem vida. O reencontro seria apenas com as lembranças e estas maculadas pela dor. Porém, ao chegarem ao local do descanso eterno do Rabi, surpresa, espanto e confusão se apoderaram das piedosas mulheres que viram o túmulo aberto e o corpo do Mestre ali não estava. Dor, desespero e medo lhes invadiram o coração. Dois homens angelicais, com vestes fulgurantes lhes perguntam porque estavam procurando entre os mortos aquele que ressuscitou. Falando-lhes e lhes recordando as palavras do Senhor, eles lhes fizeram entender que eram reais suas afirmações de que adviria o sofrimento, porém, após a Cruz a vida lhe seria dada de modo glorioso e eterno (Cf. Lc 24,4-8). Chorando, Maria Madalena é interpelada pelo próprio Jesus que lhe indaga o porque do choro ao que esta, pensando ser o jardineiro lhe pede pelo corpo de seu amado Senhor. Quando ouve o homem chamar-lhe pelo nome, ela imediatamente reconhece sua voz, a mesma voz que a curou, consolou e animou. “É o meu Jesus!” Teve ela a certeza em seu coração (Cf. Jo 20,14-17). O medo se foi! Ela e suas companheiras são tomadas de uma alegria tão intensa, que nem mesmo o imperador lhes poderia quitá-la. Saem correndo e anunciam ao mundo inteiro, começando por Pedro e os demais discípulos que Jesus está vivo.

Estamos nos aproximando da Páscoa, a festa maior dos cristãos. Como podemos celebrar com alegria e paz a festa da vida, se muitos homens e mulheres não conhecem o autor da vida? Como podemos nos dizer cristãos, se temos medo e vergonha de anunciar nossa fé, de testemunhar o amor de Deus e as graças que Ele tem derramado em nossas vidas? Como transformar o coração e a alma dessa imensa massa inerte e indiferente aos ensinamentos do Senhor? Maria Madalena e as outras mulheres só tiveram a coragem de testemunharem a ressurreição a todos quantos se lhes era permitido testemunhar, porque elas mesmas experimentaram a força ressuscitadora de Jesus.

Irmãos e irmãs, catequistas e todo povo de Deus da grei de Novo-hamburguense: não sejamos como tantos outros que vão celebrar a Páscoa, sem dela terem experimentado o seu poder renovador. Eis que o Senhor está no meio de nós, sua Igreja, Povo de Deus. Eis que Ele vive e nos acompanha diariamente do nascer ao pôr-do-sol. Eis que Ele derrama diariamente sobre nós uma chuva de graça. Façamos nosso trabalho de evangelizadores. Façamos nosso papel de discípulos que percorrem as ruas e casas dessa imensa diocese a anunciar que Jesus venceu a morte e o pecado e pode fazer novas todas as coisas. Tenhamos a coragem de darmos testemunho de nossa fé. Falemos do quão bom é ser de Deus.

Que nossos corações e almas sejam um verdadeiro jardim de graças e que elas possam se espalhar por onde quer que passemos. Que a Páscoa que se avizinha seja fonte de renovação interior e comunitária. Que nossa catequese seja experiencial e não puramente alegórica e teórica acerca da Ressurreição, mas que ela seja uma partilha daquilo que Jesus realizou em nós através da penitência, da oração e da generosidade na quaresma que tivemos. Sejamos Luz! Pois para sermos Luz o Senhor nos chamou. Feliz Páscoa!

Autor(a): PADRE LUCIANO MARTINS DE ALMEIDA ASSESSOR DA ANIMAÇÃO BÍBLICO-CATEQUÉTICA

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