“Nada menos que o Céu”: a história de fé, entrega e esperança de Lucas Mancilha

A vida de Lucas Mancilha continua a ecoar como um testemunho silencioso, profundo e transformador de fé, amor e radicalidade cristã na Diocese de Novo Hamburgo. Jovem, recém-casado, católico fervoroso, Lucas marcou uma geração inteira pelo modo como viveu e também pelo modo como entregou sua vida a Deus.

Inspirado pelos jovens santos do nosso tempo, como Carlo Acutis, Chiara Luce Badano e Pier Giorgio Frassati, Lucas buscava a santidade possível e concreta do dia a dia. Ele costumava repetir a frase que se tornou marca de sua espiritualidade: “Nada menos que o Céu”.

Uma infância simples e uma fé que cresceu cedo

Lucas nasceu em 18 de maio de 1993, em São Leopoldo, em uma família católica. Desde a infância revelou um coração sensível, alegre, conciliador e atento às necessidades dos outros. Aos 11 anos, ao participar do curso ONDA, sua vida ganhou um novo rumo espiritual. A partir desse encontro, sua fé deixou de ser apenas herança familiar e passou a ser convicção pessoal.

Passou a cultivar a oração diária, a devoção ao terço, a adoração ao Santíssimo Sacramento e a direção espiritual. Apaixonado por Nossa Senhora e pela juventude, evangelizava de modo simples e discreto, por meio de gestos concretos de amor.

Desde muito cedo, Lucas demonstrava um ardor incomum pela salvação das almas, especialmente dos jovens. Sua abertura à correção fraterna e à direção espiritual marcou seu caminho de maturidade cristã. Entre tantos frutos dessa jornada, uma frase se tornou síntese de sua vocação: “Não quero nada menos que o Céu”.

Fascínio pelos santos e desejo de oferecer a própria vida

A vida dos santos sempre foi fonte de encanto para Lucas. Os mártires, em especial, despertavam nele um desejo profundo de doar-se totalmente a Cristo. Em determinado momento, esse desejo gerou uma tristeza íntima, ao perceber que, humanamente, dificilmente teria a oportunidade de derramar o sangue pela fé.

Mais tarde, já adulto, viveu uma luz interior que mudaria sua perspectiva. Ele compreendeu que, embora não pudesse ser mártir da forma tradicional, poderia oferecer suas dores e sofrimentos a Jesus. Essa frase, dita antes de qualquer diagnóstico, passou a ser vista por muitos como um anúncio do caminho de entrega que ele viveria.

A inspiração de Carlo Acutis e o ardor missionário

Lucas conhecia profundamente a vida dos jovens santos e beatos da Igreja e se sentia especialmente tocado pelo testemunho de São Carlo Acutis. Essa proximidade espiritual o levava a buscar uma vida de maior radicalidade na oração e na evangelização.

Inspirado por esses modelos, e acompanhado de um amigo que hoje é sacerdote, criou um blog dedicado à missão entre os jovens. Em 16 de abril de 2010, registrou ali uma reflexão sobre o Movimento ONDA que se tornou emblemática:

“Claro que ser pescador não significa apenas pescar. O Evangelho nos diz que os apóstolos sempre voltavam à margem para descarregar os peixes. O interessante é que Jesus ficava na margem. Portanto, para cada passo que damos na pesca, na evangelização de jovens, devemos dar um passo para Jesus. Um ondinha pescador que se preze não estaciona, está sempre subindo.”

A doença, o matrimônio e a oferta total

Aos 25 anos, recém-casado, Lucas recebeu o diagnóstico de leucemia mieloide crônica, uma doença grave e de evolução rápida. Mesmo antes de compreender totalmente a gravidade da situação, seu primeiro pedido ao ser internado foi a confissão e a unção dos enfermos.

Em conversa telefônica com seu diretor espiritual, foi convidado a fazer naquele momento sua entrega total a Deus, em referência aos “25 minutos” de aceitação vividos pela Beata Chiara Luce. Ao ouvir que aquele era o seu momento, perguntou com serenidade: “Mas já?” Ao receber a confirmação, respondeu com as palavras da jovem beata: “Se Jesus quer, eu também quero”.

A partir desse instante, Lucas viveu sua doença com heroísmo e mansidão. Não houve murmuração ou queixa. Ele enfrentou a dor com paciência e fé, unido ao Cristo sofredor.

Em apenas três dias, a doença evoluiu de forma fulminante. Lucas fez sua Páscoa definitiva para a Vida Eterna, deixando uma marca profunda de esperança, paz e santidade.

Um velório que parecia céu

O velório de Lucas, realizado na Paróquia Nossa Senhora das Graças, tornou-se um verdadeiro acontecimento espiritual. Mais de duas mil pessoas passaram pela Igreja ao longo da despedida. Jovens, famílias, amigos e até desconhecidos se uniram em oração, acompanhados por violões, cantos e uma paz incomum.

O fluxo de pessoas foi tão grande que a Brigada Militar precisou intervir devido ao trânsito bloqueado por várias quadras. Muitos que chegavam afirmavam não conseguir ir embora. A sensação compartilhada era de que algo extraordinário acontecia ali. Falava-se espontaneamente em “odor de santidade”.

A Missa de Sétimo Dia, celebrada na Paróquia Nossa Senhora Medianeira, reuniu novamente uma grande multidão. Trinta e dois violões acompanharam os cânticos. Um mês depois, na Paróquia Santa Catarina, outra celebração lotou a Igreja, com muitos jovens e famílias em oração.

No dia 27 de janeiro de 2019, amigos e familiares se reuniram na casa dos pais de Lucas para uma missa presidida pelo Pe. Alex. Naquele momento, compreendendo que algo extraordinário havia acontecido, decidiram rezar juntos pela fama de santidade de Lucas.

Seu túmulo, um lugar de oração

Lucas está sepultado no cemitério da comunidade católica da Paróquia Nossa Senhora das Graças, na Feitoria. Seu túmulo é visitado até hoje por pessoas que levam pedidos, agradecimentos e súplicas, confiando em sua intercessão.

A fama de santidade e o objetivo da divulgação

A Igreja entende a fama de santidade como um reconhecimento espontâneo do povo de Deus. É a própria comunidade que identifica sinais de vida heroica, de virtude e de amor extraordinário a Cristo. Essa percepção popular é o ponto de partida para que a Igreja avalie oficialmente a vida de alguém.

No caso de Lucas Mancilha, muitas pessoas testemunham a santidade de sua vida, especialmente no modo como enfrentou sua doença, com amor, fé e plena aceitação da vontade de Deus. Divulgar sua história tem o propósito de tornar conhecido seu testemunho, incentivar a oração e, se for da vontade de Deus, permitir que a Igreja um dia avalie oficialmente sua vida.

Não se trata de declarar Lucas santo, mas de permitir que, se ele realmente viveu santamente, a Igreja possa reconhecer isso no tempo oportuno.

Uma oração que continua sendo rezada

A devoção espontânea ao jovem tem crescido, e muitos rezam a oração composta em sua memória:

“Lucas Mancilha, apóstolo da alegria,
que foste chamado a imitar, no Matrimônio,
o amor de Jesus por sua Igreja.
Buscando ‘nada menos que o Céu’,
encontraste vida, alegria, amor e amizade
no testemunho de Nosso Senhor Jesus Cristo.

Ensina-nos a ser sal da terra e luz do mundo
pelo amor a Cristo oculto no necessitado.

Confiando em Jesus
e unindo nossos sofrimentos aos d’Ele,
experimentemos a verdadeira felicidade.

Ao final desse tempo de misericórdia,
esperamos que a morte seja
na paz e em comunhão com Deus.

Assim, ao chegarmos para o julgamento final,
Jesus nos diga: ‘Vem, bendito do meu Pai’,
e sejamos introduzidos
na eterna Bem-Aventurança
ao lado da Santíssima Virgem Maria.
Amém.”

Um legado que continua cantando

Uma das frases que mais expressa o espírito vivido por Lucas está presente na canção “Lado a Lado”, do musical Encontro, da Comunidade Católica Shalom. A letra diz:

“Em meio a tanta dor,
não cesse o louvor
em meus lábios
e em meu coração”.

A história de Lucas Mancilha não termina com sua morte. Ela continua tocando vidas, despertando vocações, inspirando jovens e apontando o Céu como destino final. Para Lucas, e para tantos que hoje conhecem seu testemunho, não existe plano menor do que esse: nada menos que o Céu.

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