Dom Zeno Hastenteufel: O Visionário por trás do CLJ

Em uma jornada que transcende gerações, o Curso de Liderança Juvenil – (CLJ) transformou a vida de milhares de jovens. E para entender a origem e a força desse movimento, nada melhor do que conversar com o próprio fundador. Para falar dos 50 anos da existência do CLJ, recebemos Dom Zeno Hastenteufel, bispo emérito de Novo Hamburgo, para um bate-papo inspirador sobre a criação do CLJ, seus desafios, conquistas e a importância desse movimento de jovens para a Igreja e para a sociedade.

Pe. Fábio Luis Galle – Qual foi a inspiração para a criação do CLJ? O que o motivou para iniciar este movimento? Quantos anos de padre o senhor tinha?

 Dom ZenoNa verdade eu sou de uma opinião de que o início do CLJ foi uma inspiração de Deus, porque eu fui para aquele retiro de crismandos em situação de desespero: a data da crisma estava se aproximando e os nossos 90 crismandos estavam entendendo todo o conteúdo, faziam as tarefas de casa, mas não havia santo que os trouxesse para as missas, muito menos confissão e comunhão. Organizamos o retiro para motivar estes jovens para os Sacramentos. As palestras eram feitas por um jovem sacerdote, de 28 anos, dois anos de ordenação.

Pe. Fábio Luis Galle – Como era a realidade dos jovens na época da criação do CLJ e como o movimento buscava atender às suas necessidades?

Dom Zeno – A partir da promulgação do Ato Institucional número cinco, as reuniões de jovens ficaram totalmente proibidas e os padres que contrariavam esta medida eram acusados de subversivos e chamados pelo DOPS (Departamento Organizado da Polícia Secreta). A partir da prisão de alguns Assistentes Eclesiásticos da JAC, JEC, JOC e JUC, a presidência da CNBB, na Assembléia de 1969 suspendeu toda a AÇÃO CATÓLIA. Com isto os jovens de Porto Alegre e arredores boicotaram a Igreja e os Sacramentos.

– Em 1973, começou o Emaús em Porto Alegre, com o Pe. Urbano Zilles e alguns padres novos. Tínhamos já alguns líderes e violeiros. Eu os convidei para o Retiro de crismandos. Deram alguns testemunhos e muitos cantos bonitos, isto tudo tocou os jovens.

Pe. Fábio Luis Galle – Quais foram os principais desafios enfrentados na fundação e nos primeiros anos de CLJ?

Dom Zeno – Os jovens viviam em uma profunda baixa estima. O conflito de gerações levou-os a uma carência afetiva, já que abraços e beijos até na família eram escassos e só possíveis em aniversários ou em virada de ano. Um jovem carente, abraçado por um padre ou um casal de tios estava conquistado. Mas isto era escândalo para padres e idosos da Paróquia. O bispo foi avisado e me chamou, mas compreendeu meus argumentos e foi um verdadeiro pai para mim. O que ele me falou foi esta frase: “Se esta obra vem de Deus, tenha certeza que ele vai nos produzir muitas e santas vocações. Em caso contrário, vamos acabar com este movimento que, neste momento, está florescendo tão bonito em nossa Igreja” (Dom Vicente Scherer).   

Pe. Fábio Luis Galle – Qual a importância do CLJ na formação dos jovens e na Igreja?

Dom Zeno – Uma vez terminado o primeiro CLJ, com a participação de 19 crismandos, impunha-se marcar um segundo, para antes da crisma ainda. Foi realizado a 15, 16 e 17 de novembro de 1974. Com 55 cursistas, na maioria alunos do Anchieta, Rosário, São Pedro e Bom Conselho. Nas escolas já rolava o “baseado”. Alguns até trouxeram para o CLJ. Nossos bons médicos conseguiam mostrar o prejuízo que isto causaria e o CLJ passou a ser uma escola anti-drogas, com excelentes resultados. Todos os pais queriam os filhos no CLJ. No terceiro CLJ já vieram os jovens da Sagrada Família e o Pe Severino; no quarto, vieram os jovens da Fátima com o Pe. José Miguel e da Piedade com o Pe. Tadeu Canelas. E assim foi. Em cinco anos, 50 cursos: Em Canela, Estrela, Uruguaiana, Montenegro, Novo Hamburgo e Porto Alegre.

Pe. Fábio Luis Galle – Como o CLJ contribuiu para a formação de líderes cristãos?

Dom Zeno – O CLJ contagiava todos com os violões, as músicas, o seu hino (em que se canta: Unidos estamos aqui, unidos queremos ficar. É preciso que o mundo fique um pouco melhor, porque nele eu vivi e por ele tu passaste meu irmão).

– Em 1984, o CLJ foi para Passo Fundo. Preparamos novas Diretrizes e Bases, e, uma equipe toda trabalhou na organização do CLJ1 (curso de três dias). O CLJ2, aprofundamento da espiritualidade e compreensão do Curso, organizado, em cinco etapas e descobertas. CLJ3 (para quem já estivesse há três anos no movimento e na Universidade. Era um curso para Coordenadores e Líderes Universitários, com ênfase na História da Igreja, já que as Universidades tiravam os jovens do Movimento com as acusações contra a Igreja e a sua história, muitas vezes, ensinada por docentes sem fé e plenos de ideologias contrárias.

Pe. Fábio Luis Galle – Quais os principais valores transmitidos pelo CLJ aos jovens?

Dom Zeno – Fundamentalmente o CLJ se baseia na resposta de Pedro, diante da pergunta de Jesus: E vós, quem dizeis que eu sou? – Pedro Respondeu: “Tu és o Cristo, Filho de Deus vivo”. Esta mensagem nós entendemos como uma nova interpretação da história. Ele não é apenas um personagem da história, que viveu no passado, que morreu e deixou uma lembrança. Ele é o Cristo ainda hoje vivo e que nos acompanha de muitas formas, especialmente na Eucaristia, na sua palavra e na vida da comunidade cristã. Por isso o CLJ é paroquial, feito por paróquias, vive a continuidade, em paróquias, em pequenas comunidades missionárias, onde cada jovem é apóstolo de outros jovens. Quem busca os novos integrantes não é o padre, nem o bispo. São jovens apóstolos dos jovens. Ao padre cabe acompanhar os fiéis, os que já participam e vivem a sua fé na comunidade cristã.

Pe. Fábio Luis Galle – Como o CLJ evoluiu ao longo dos anos? Quais foram as principais mudanças e adaptações?

Dom Zeno – A grande evolução aconteceu nos primeiros anos. Em 1984, procuramos dar uma estabilidade ao Movimento, para que se firmasse bem em seus objetivos e passamos a ser uma Escola de Vocações. Criamos departamentos vocacionais. E isto nos trouxe muitas vocações sacerdotais, religiosas e para a vida familiar. Hoje temos mais 100 padres oriundos do CLJ algumas dezenas de religiosas, muitas Carmelitas, e milhares de casais, muito bem casados, com filhos pequenos, vivendo a vida cristã, acompanhando o MCJ, também fundado na São Pedro em 1975, exatamente para os nossos jovens que estavam se casando e precisando ter também um movimento que os acolhesse com os filhos menores.

Pe. Fábio Luis Galle – Quais os maiores desafios do CLJ na atualidade?

Dom Zeno – Hoje nossos jovens olham para os casais jovens, ficam felizes em saber que estão num belo Movimento e já existem   Escolas para os filhos, de uma família que quer viver a vida cristã, assumir os Sacramentos e participar da vida da Igreja.

– Outro grande desafio no Pré-CLJ hoje é a questão da indiferença. Grande parte dos jovens de hoje está tão concentrada na Mídia e nas Redes Sociais que fica indiferente e desligado de todo o resto. Muitas vezes a Crisma já não os motiva, não impressiona e não os leva a se interessarem, porque já estão envolvidos com tantas coisas que não há mais espaço em suas vidas.

Pe. Fábio Luis Galle – Qual a mensagem que o senhor gostaria de deixar para os jovens que participam do CLJ?

Dom Zeno – Tenho a convicção de que a criação e sustentação do CLJ, durante estes cinqüenta anos foi uma obra de Deus, que se utilizou deste pobre instrumento humano e milhares de colaboradores diretos, entre padres, dos quais muitos já faleceram e eu cito o Pe. Severino Brum, Pe. José Miguel, Pe. José Rech, Mons. Izidoro Bruxel, Pe. Ivo Barth, Pe. Pedro Gajardo, Mons Irineu Aloísio Flach,  e inúmeros outros. Aqui na diocese preciso citar o Pe. Luiz Pedro Wagner, Pe. Lúcio Foerster, Pe. Geraldo Elias do Couto, Pe. César Worst, Pe. Valnei Armesto, e os atuais Diretores Espirituais.

– Tenham todos e todas a certeza de que hoje estão num Movimento que há cinqüenta anos está prestando um grande serviço a favor da juventude, graças ao apoio dos Casais de Tios… Já são centenas e centenas de casais que se dedicaram durante anos inteiros, colocando seus fins de semana a serviço da Juventude. São os Tios que nos garantiram esta longa continuidade.

– Mas sem dúvida, o CLJ chega aos cinquenta anos, graças à colaboração e ao esforço de inúmeros jovens que colocaram seus dons a serviço da Igreja e exercitaram a sua vocação de leigos, de seminaristas e de padres, em favor da causa dos jovens. Hoje são protagonistas do CLJ e merecem a nossa homenagem.

Texto: Padre Fábio Luis Galle



Veja as fotos de eventos que marcou os 50 anos do CLJ:
Fotos Gabriel Machado – Pascom Diocesana

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