ACREDITAR NA EDUCAÇÃO SEMPRE

A Campanha da Fraternidade 2020, terá como tema: “Fraternidade e vida: dom e compromisso” e lema: “Viu, sentiu compaixão e cuidou dele” (Lc 10, 33-34). Pensando em como refletirmos sobre a Campanha da Fraternidade à luz da vivência familiar, creio que uma boa sugestão será aquela de traçarmos um paralelo entre a parábola do Bom Samaritano, proposta como lema da Campanha e a terceira pergunta do diálogo antes do consentimento utilizado no Rito do Matrimônio, aquela que diz: “Estais dispostos a receber com amor os filhos que Deus vos confiar, educando-os na lei de Cristo e da Igreja?”

Quando São Lucas narra a parábola do Bom Samaritano, diz que certo samaritano em viagem, porém, chegou junto dele ( junto ao homem que sofria na beira da estrada), viu-o moveu-se de compaixão. Também os assaltantes viram aquele homem, também um sacerdote e um levita o viram. Os primeiros enxergaram naquele homem uma vítima e um lugar para enriquecimento fácil e violento. Os outros, de quem se esperava uma atitude de misericórdia, o viram, mas enxergaram nele um problema, um atraso no caminho. O Samaritano viu o mesmo homem que os assaltantes, que o sacerdote e o levita, porém enxergou nele, não seu dinheiro e suas feridas, mas um dom!

O Bom Samaritano, que é a imagem de Cristo, olhou para aquele homem ferido, figura de toda a humanidade depois do pecado original e continuou a ver aquilo que aquele homem sempre foi, um dom. Cada vida humana é um dom que possui um valor inestimável em si mesma. O Cristo na sua encarnação assume a nossa carne, se faz um de nós, se faz nosso irmão, por isso nos ensina a verdadeira fraternidade, aquela que sabe ver no outro alguém que possui a mesma dignidade que trazemos em nós.

Em paralelo com o olhar do Samaritano com relação ao homem ferido na estrada podemos fazer menção à primeira parte da pergunta referida: Estais dispostos a receber com amor os filhos que Deus vos confiar? Diante dessa pergunta podemos nos perguntar, como a sociedade atual, tantas vezes marcada por uma cultura de morte, olha para os filhos que ainda não nasceram? Assim como na parábola, três podem ser o olhar: existem os que olham para a vida por vir como um meio, ou seja, um lugar de lucro; existem os que olham para a vida a ser gerada como um problema, um transtorno e existem aqueles que olham para o futuro feto como um dom, com um valor, como ensinava São João Paulo II, incomparável, inviolável e inalienável.

Existem os que enxergam na vida a ser gerada um lucro, como os assaltantes, seja com clínicas de inseminação artificial, contrária a doutrina moral da Igreja, fazendo da vida humana um comércio, seja os que militam pelo assassinato das crianças ainda no ventre materno, vulgarmente entendido como aborto, sendo a favor de clínicas que enriquecem com tal prática ilícita, justamente porque possuem um olhar errado com relação à vida humana, quase sempre utilitarista.

Existem os que enxergam na vida a ser gerada um transtorno, que vêem apenas despesas ou o fim da liberdade pessoal. São como o sacerdote e o levita que estão muito ocupados com as suas coisas, com seu mundo e seu pequeno universo. O sacerdote e o levita tinham boas justificativas para continuar o caminho, as pessoas imersas em uma cultura de morte também. Os primeiros colocaram as funções religiosas acima da caridade fraterna, os outros colocam o materialismo de prática atéia unido a um edonismo egoista de mentalidade contraceptiva, acima da vida humana, enxergando nessa muito mais um problema que um dom.

Existem porém os que, como o Bom Samaritano que viu e moveu-se de compaixão, olham para a vida humana a ser gerada como a Igreja, ou seja, com amor e como dom de Deus! A Igreja nos ensina a olhar para a vida como o Cristo, não com um olhar utilitarista ou egoista, mas capaz de ver no profundo, de dizer que cada vida vale por si mesmo, que cada pessoa é um dom, que cada pessoa é, não por aquilo que faz mas sim por aquilo que é, um dom de valor incalculável. O Samaritano sabia que podia ajudar aquele homem e assim o fez, o homem e a mulher que se unem no Senhor possuem o dom de serem fecundos, de acolher novas vidas, de fazer com que aqueles que não existem passem a existir, podem tirar alguém da não existência e darem a outros a maravilhosa oportunidade de existirem! É preciso porém que mudemos nosso olhar com respeito a cada vida humana, assim como nos ensina a parábola sobre a qual estamos refletindo.

A segunda proposta do tema da Campanha da Fraternidade é olhar para a vida como um compromisso. De fato relata São Lucas que o samaritano aproximou-se, cuidou de suas chagas, derramando óleo e vinho, e depois colocou-o em seu próprio animal, conduziu-o a hospedaria e dispensou-lhe cuidados ( Lc 10,34). Os esposos cristãos, assim como o Bom Samaritano que se comprometeu com o homem ferido, comprometem-se com filhos. Os esposos assumem diante da Igreja o compromisso de educar o filhos, verdadeiros dons, na lei de Cristo e da Igreja.

O Samaritano soube dar atenção aquele homem, soube cuidar de suas chagas derramando vinho, que pelo forte teor alcoólico servia para purificar as feridas, e depois o óleo, para amenizar a dor e cicatrizar. Colocou-o em seu próprio animal, deixou a comodidade da monta e fez com que aquele desconhecido pudesse viajar melhor. Depois levou até a hospedaria, que na visão de Santo Agostinho é a Igreja, o lugar de cura, o lugar em que somos cuidados e onde nos recuperamos.

Em paralelo pode-se dizer que quando um casal acolhe uma vida humana, acolhe esse “desconhecido”, que depois anda na própria montaria, isto é, faz parte da vida da família e é cuidado através do amor com o qual é recebido e também com a medicina que cura o pecado original, o egoismo e o orgulho: a lei de Cristo e a lei da Igreja! Os pais, como mestres da vida cristã, se comprometem com Deus nesse belo propósito e será, na Igreja, onde seus filhos crescerão em sabedoria, estatura e graça diante de Deus e diante dos homens ( Lc 2, 52).

Desta forma o tempo da quaresma não deve ser apenas um tempo de reflexão sobre um belo tema proposto mas deve nos ajudar a uma verdadeira conversão. Que possamos de fato mudar o nosso olhar, nosso agir e nosso coração. Que cada família possa olhar para a vida humana como um verdadeiro dom e possa se comprometer com ela no amor.

Texto: Padre Felipe Klafke Konzen

Terezinha e Schneck – Casal Coordenador Pastoral Familiar

Diocese de Novo Hamburgo

Autor(a): Pastoral Familiar

Direitos da Imagem: Pascom NH

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