O Papa: a desigualdade social e a degradação ambiental andam de mãos dadas

“Evangelizar, no Brasil cada vez mais urbano…”, onde “eu e minha casa serviremos ao Senhor” (Josué 24,15).

Poderíamos unir essas duas frases e começar um itinerário desafiador para nossa Pastoral Familiar. Nossa primeira casa é o nosso lar, onde vivemos, onde temos um abrigo seguro e cultivamos a vida familiar no seu núcleo de relações mais importante. Mas também tema a nossa primeira casa comum que é a nossa comunidade, onde participamos, onde crescemos na fé e cultivamos os sentimentos de solidariedade e amor a Deus e ao próximo. Também dessa casa precisamos cuidar. E se dermos mais um passo, vamos nos deparar com nossa casa comum geral que é nossa cidade, onde trabalhamos, onde nossos filhos estudam, onde vivemos como cidadãos e exercitamos a cidadania e a vida social. E claro, sem falar da casa comum que é o mundo, o planeta que devemos cuidar da natureza para o equilíbrio e para que tenhamos uma vida viável para as futuras gerações. Todas essas dimensões da casa, da vida em família e das relações de responsabilidades entre nós nos levam a pensar o quão importante será a Semana da Família deste ano. Em agosto vamos conversar e aprofundar esse tema, do micro ao macro, mas onde a dimensão família se faz presente em todos os âmbitos

A lógica da mentalidade urbana pode ser definida pela dinamicidade de suas relações humanas e sociais. Tudo muito veloz, tudo muito misturado, tudo muito fluído. Avançamos em muitos aspectos com a chegada das novas tecnologias e seus benefícios para a comunicação e mobilidade humana. Mas, ao mesmo tempo, temos grandes dilemas quando se trata do sentido da vida e da experiência de fé.

Nossa proposta é simples: fazer acontecer a evangelização onde estamos, pois onde estamos faz parte da nossa casa, é um pouco de nossa família.

E, por onde começamos? Pela família. Temos a missão de evangelizar na família e pela família. Em primeiro lugar na família, pois sabemos o quanto ela sofre para manter-se fiel e perseverante nos seus ideais e nos seus valores. Numa sociedade que prioriza a independência e o individualismo, a família se torna um obstáculo para uma vida “livre e sem responsabilidades”. No núcleo familiar o ser humano se desenvolve em toda a sua essência e integralidade: cresce no amor, na gratuidade, na doação, na partilha, na paciência, na resiliência, no cuidado, na solidariedade, e no compromisso com o outro. Não são valores artificiais, comprados, adquiridos por interesse, mas vêm de dentro, do profundo do coração, frutos do amor verdadeiro e mútuo que foram dados por Deus desde a criação e nunca foram destruídos. Na benção nupcial isto é confirmado quando rezamos: Ó Deus, vós unis a mulher ao marido e dais a esta união estabelecida desde o início a única bênção que não foi abolida, nem pelo castigo do pecado original, nem pela condenação do dilúvio”. Portanto, evangelizar na família é amar todo dia, é acreditar na vida, é responder com alegria ao chamado de Deus.

Além disso, podemos afirmar que podemos evangelizar pela família. Dom Vicenzo Paglia, do Pontifício Conselho para a Família, esteve na Bahia, visitando o Instituto João Paulo II, e expressou uma grande verdade que cabe a nós fazer acontecer: E? indispensa?vel um ponto de virada eclesiolo?gica que torna a pro?pria Igreja uma fami?lia. Sim, a Igreja, falando de fami?lias, tambe?m fala de si mesma. E vice-versa. Esta perspectiva exige uma nova “forma ecclesiae”. Na?o e? suficiente reorganizar a “pastoral familiar”. Ha? uma necessidade de muito mais: tornar “familiar toda a pastoral” ou melhor tornar “familiar toda a Igreja”.”

Essa inspirada reflexão nos compromete ainda mais com a proposta da Igreja do Brasil, que aponta para a imagem da casa e dos quatro pilares, tornando assim, toda evangelização envolvida em laços de família.

Assim, que a nossa Pastoral Familiar possa animar e envolver todas as famílias na evangelização, no Brasil cada vez mais urbano e, ao mesmo tempo, tornar mais humano, mais família, um mundo que vem perdendo o sentido da vida, num clima de orfandade social persistente, resultado de uma cultura de morte, onde Deus é descartado e a vida desprezada. Somente a experiência dos laços de amor verdadeiro entre homem e mulher, sinal trinitário da abertura à vida perpetuada no amor humano, que o mundo poderá voltar-se à verdade que foi revelada por Jesus Cristo: somos filhos, no Filho, família humana criada pela Família Divina, chamados ao amor e a doação total de si para que a vida plena de Deus se realize integralmente em nós.

Desejo coragem, perseverança e criatividade para realizarmos a evangelização no Brasil cada vez mais urbano de modo que nossa casa esteja sempre a serviço do Senhor. Mas que seja uma evangelização cada vez mais humana, pois quanto mais humanos formos, mais divinos seremos.

Dom Ricardo Hoepers

Bispo do Rio Grande

Presidente da Comissão para a Vida e a Família da CNBB

Pastoral Familiar Diocesana

Diocese de Novo Hamburgo

Casal Coordenador Terezinha e Schneck

Autor(a): Pastoral Familiar

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